quarta-feira, 12 de julho de 2017

Sete Mulheres para cada Homem? Existe tal Profecia?


*A pergunta feita no ITQ gerou este artigo e um esboço do livro. Matéria Escatologia Bíblica.

Por uma Hermenêutica saudável!

Há uma Profecia na Bíblia que diga que haverá sete mulheres para cada homem????

A questão proposta está no livro do Profeta Isaías, escrito entre 701 e 681 AC.

O objetivo de estudar a Bíblia não se limita a apurar o que ela diz e o seu significado; inclui a aplicação dela à vida. Se não aplicarmos as Escrituras, estaremos encurtando o processo. A maturidade espiritual pretendida, que nos torna mais semelhantes a Cristo, não decorre apenas de um conhecimento mais amplo da Bíblia. Resulta de um conhecimento mais amplo da Bíblia e de sua aplicação às nossas necessidades espirituais também. O objetivo do estudo da Bíblia é a assimilação íntima, não a simples percepção mental. (conforme Cl 1.28).

E esta é mais uma passagem rica numa aplicação para hoje, no entanto, vamos nos ater na mensagem do “lá e então”.

Ao ler a Bíblia, muitos saltam diretamente da observação para a aplicação, passando por cima da etapa essencial da interpretação. Isto é um erro, pois a interpretação é a sequencia lógica da observação.

Ao observar o que a Bíblia diz você está fazendo uma sondagem; ao interpretá-la, está fazendo uma reflexão.

Observar significa descobrir; interpretar significa digerir.

A observação consiste em descrever; a interpretação, em determinar o sentido

A primeira é exploração; a segunda, explicação.

A interpretação deve apoiar-se primeiramente na observação e, depois, conduzir à aplicação.

É a regra da OICA (Observação, Interpretação, Correlação e Aplicação).

O capítulo 4 versos 1,2 diz:

“E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio. Naquele dia o renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória; e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel.” Isaías 4:1,2

Portanto, para entender este texto é necessário recorrer ao contexto da passagem em questão. O capítulo 3 de Isaías nos fala que em decorrência do orgulho, altivez e vaidade das filhas de Jerusalém, chegaria um tempo em que seus homens cairiam à espada (verso 25).

Como consequência as mulheres daqueles dias não teriam com quem se casar; o que para aquela cultura significava opróbrio e vergonha.

Daí sete mulheres pedirem a um homem que apenas lhe dessem um nome de casada para livrá-las da vergonha ou opróbrio.

E claro, a partir de uma visão cristocêntrica, é possível fazer uma aplicação baseada no verso 2 do capitulo 4., onde se pode identificar este homem como o messias, Jesus(o Renovo do Senhor). Na simbologia profética mulher significa igreja ou a nação de Israel.

Neste caso temos um texto profético que anuncia um tempo em que pessoas, congregações – igrejas - Israel desejarão apenas ter o nome de Jesus, mas não o seu pão (sua palavra) e nem suas vestes (seu caráter).

Ou seja grupos denominados cristãos, descomprometidos com a palavra e o exemplo de Cristo.

Há um forte simbolismo no livro, na profecia, (eventos ocorridos na simbologia do sete, se referem a uma completude de tempos) as sete mulheres representam a mulher e a situação dos últimos dias. Dias estes, que precedem a volta de Cristo.

São livres, são independentes e cabeças. Sustentam a si mesmas e atendem quase todas suas necessidades.

Pelo texto, o que lhes falta ainda conquistar?

Falta conquistar o atropelado nas conquistas: o Homem.

Dali para frente e cada vez mais acentuado, Homem, seria tão raro, que quando um for achado, elas se renderão, se humilharão e o implorarão para lhes arrancar o opróbrio e terem o direito de serem chamadas pelo seu nome.

Ratificando: O que o texto fala não é que EM TODA A POPULAÇÃO DA TERRA HAVERÃO SETE MULHERES "PARA CADA" HOMEM DA TERRA. O texto mostra uma situação específica (um homem), um exemplo de como a situação vai ficar ruim.

Para encorpar a argumentação, a seguir dados importantíssimos:

Contexto Histórico.

  • O livro de Isaías está centralizado em um dos períodos mais turbulentos e trágicos da história judaica. 


  • Nos dias de Isaías, o reino de Judá esteve sob o governo de cinco reis, dos quais alguns eram bons e outros maus - Uzías, Jotão, Acaz, Ezequias e Manassés. Era uma nação pecadora. Embora fosse o povo de Deus, eles eram apóstatas e sem dúvida mereciam ser castigados. Durante o período da vida de Isaías, em um momento ou outro, vários inimigos poderosos estiveram inclinados à destruição de Jndá; O Reino do Norte de Israel, governado por Peca; a Síria, cujo rei era Rezim; e a Assíria, sob reis guerreiros como Tiglate-Pileser III, Sargão II e Senaqueribe. Além disso, outros vizinhos, como os filisteus, os moabitas e os edomitas, de vez em quando atacavam o pequeno reino.


  • O Egito era apenas uma “cana quebrada” sobre a qual tentavam apoiar-se em busca de ajuda contra o invasor assírio. Foi predito que a Babilônia, com quem Ezequias fez uma aliança, tomar-se-ia o futuro destruidor. Por meio de revelação, Isaías previu dois libertadores por vir: Ciro, como um libertador distante; e o Messias, como um libertador mais distante ainda. O profeta observou que tudo e todos seriam instrumentos de Deus tanto para o castigo quanto para a redenção de seu povo escolhido.


  • O profeta Isaías foi primeiramente chamado a profetizar ao Reino de Judá. Judá estava passando por tempos de reavivamento e tempos de rebeldia. Judá foi ameaçado de destruição pela Assíria e Egito, mas foi poupado por causa da misericórdia de Deus. Isaías proclamou uma mensagem de arrependimento do pecado e de expectativa esperançosa do livramento de Deus no futuro.


  • Mais do que qualquer outro livro no Antigo Testamento, Isaías concentra-se na salvação que virá através do Messias. O Messias um dia governará com justiça e retidão (Isaías 9:7; 32:1). O reino do Messias trará paz e segurança a Israel (Isaías 11:6-9). Através do Messias, Israel será uma luz para todas as nações (Isaías 42:6; 55:4-5). O reino do Messias sobre a terra (Isaías capítulo 65-66) é o objetivo para o qual aponta o Livro de Isaías. É durante o reinado do Messias que a justiça de Deus será plenamente revelada para o mundo.


  • Em um aparente paradoxo, o Livro de Isaías também apresenta o Messias como aquele que vai sofrer. Isaías capítulo 53 descreve vividamente o Messias sofrendo pelo pecado. É através de Suas feridas que a cura é alcançada. É através de Seu sofrimento que as nossas iniquidades são removidas. Esta aparente contradição é resolvida na Pessoa de Jesus Cristo. Em Sua primeira vinda, Jesus foi o servo sofredor de Isaías capítulo 53. Em Sua segunda vinda, Jesus será o Príncipe da Paz e ocupará o Seu cargo de Rei (Isaías 9:6).


Análise do Livro:

a) Os capítulos 1-6 são introdutórios. Na “grande acusação” (cap. 1), o povo de Deus é acusado de formalismo e hipocrisia, de cobiça e crueldade, de total desconsideração à sua relação de aliança com o Senhor seu Deus, Eles merecem o destino de Sodoma. Mas aqui, como em toda parte no livro de Isaías, há uma maravilhosa mistura de exortação e conforto com denúncia e condenação: “Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela, com justiça” (1.27).

b) Os capítulos 7-12, freqüentemente chamados de “livro do Emanuel", referem-se à primeira grande crise, a guerra siro-efraimita, que por causa da incredulidade de Acaz provocou a primeira invasão assíria. As referências desdenhosas a Rezim e Peca poderiam (excetuando-se 2 Crônicas 28.6} nos levar a minimizar a grandiosidade dessa ameaça, que é responsável pelo pedido de ajuda de Acaz à Assíria. As maravilhosas profecias do Emanuel (7.14; 8.8,10; 9.6ss.; 11.1-6) terminam com a bênção aos gentios (11.10) e com uma canção de louvor ao Deus de Israel (cap. 12): “Porque grande é o Santo de Israel no meio de ti” (v.6).

c) Os caps. 13—23 contêm “fardos” (profecias pesadas e dolorosas) contra as nações que ameaçam a própria existência de Israel. Babilônia (e Assíria), Filístia, Moabe, Damasco, Etiópia e Egito, Edom, Arábia, Jerusalém (cujo pecado faz dela seu pior inimigo) e Tiro. Aqui, como em outra parte, a compaixão e a esperança perfuram as nuvens tempestuosas da ira (14.1-3,24-27,32; 17.7ss.; 18.7 etc.). Especialmente admirável é 19.23-25, onde Isaías usa sua figura favorita da “estrada” para descrever a relação segura e amigável com os antigos inimigos. Q Egito é chamado de “meu povo” (19.25; cf, Ex 5.1); a Assíria, de “obra de minhas mãos” (cf. 45.11); Israel, de “minha herança” (Zc 2.12) - uma profecia maravilhosa que desenvolve Isaías 2.2-5. 

d) O cap, 24 é uma visão do juízo do mundo, um apocalipse, que termina em bênção; o Senhor reinará no monte Siâo. O cap. 25, um hino de louvor, é seguido por uma canção que assim como a do cap. 12 será cantada pelo Israel redimido. O cap. 27 termina com uma promessa de livramento.

e) Os caps, 28-31 contêm outros juízos sobre as nações; aparentemente a Assíria, a Babilônia e o Egito. O “ai” sobre Samaria (cap, 28), provavelmente proferido antes de Sargão atacá-la, é seguido pela promessa da “pedra já provada, pedra preciosa de esquina” que o Senhor assentará em Siâo (28.16). 

f) No cap. 29, o “ai” sobre Ariel (a lareira de Deus, onde o fogo do altar arde perpetuamente e, portanto, um nome figurativo de Jerusalém) termina da mesma forma com uma promessa contra as alianças com o Egito (caps. 30-31). Contudo, essa advertência também é combinada com uma promessa de bênção (30.18-33), e é seguida no cap.32 pela promessa de um rei (o Messias) que “reinará em justiça”; e “o efeito da justiça será paz”. O cap. 33 é dirigido contra a Assíria, o “despojador que não foi despojado”. Contudo, Jerusalém será uma “habitação quieta, tenda que não será derribada” (33.20). O terrível “ai” sobre Edom (cap. 34) é seguido de um quadro glorioso de bênção futura (cap 35).

g) Os caps. 36-37 falam da invasão de Senaqueribe, uma das histórias mais emocionantes da Bíbila. O touro enfurecido que blasfemou contra o Santo de Israel será expulso com um anzol em seu nariz para morrer em sua própria terra pelas mãos de seus próprios filhos. A doença de Ezequias e a embaixada de Merodaque-Baladã (caps. 38-39} aparentemente dizem respeito a uma data anterior à dos caps. 35-37. Estes relatos são colocados depois dos outros; porém, esta ordem tem a finalidade de que a profecia ameaçadora de 39.6ss. pudesse ser imediatamente seguida pela grande mensagem de consolação para as gerações futuras; um livramento que Ezequias só poderia procurar em sua própria época.

h) O livro da consolação (caps. 49-66) pode adequadamente ser chamado de um sermão profético, tendo o nome de Isaías (“salvação do Senhor”) como seu tema.

Portanto, o horror do pecado humano e as maravilhas da graça divina são os seus temas recorrentes e alternados.

Podemos dividir o Livro de Isaías em duas partes: Na primeira parte que vai do capítulo primeiro ate o trinta e nove, o profeta Isaías alerta o povo de Deus a respeito da invasão e do cativeiro. A segunda parte de Isaías, como no “Novo Testamento”, apresenta conforto e esperança para um povo que reconheceu a necessidade de um Salvador a partir do conhecimento do “Velho Testamento” de Isaías que aponta para o Caminho, para o Salvador. 


Lembre-se:

  • Uma das maneiras mais fáceis de interpretar um texto bíblico é fazendo as perguntas:


"Quem, o quê, quando, como, onde, porque e para QUEM"

  • Outra preciosa norma de interpretação afirma que um texto descritivo pode ilustrar uma doutrina.


  • Nada de texto fora do contexto!


Rodrigo Martins

Bacharel em Teologia, Professor de Hermenêutica e Escatologia a doze anos no I.T.Q. Juiz de Fora MG. Graduando no Sétimo Período de Pedagogia na UFJF

BIBLIOGRAFIAS

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STUART, Douglas; FEE, Gordon D. Manual de exegese bíblica – antigo e novo testamentos. Ed. Vida Nova
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