terça-feira, 26 de setembro de 2017

É impossível Arrepender? Uma Hermenêutica de Hebreus.


Esboço para discussão em sala, aula de hermenêutica 26/09/2017

Professor Rodrigo Martins ITQ Juiz de Fora MG

Análise de Hebreus 6 com especial atenção em:

“Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.” Hebreus 6:4-6

  • O livro foi escrito entre 60 e 70 d.C. talvez Itália (Hb.13.24). Tema principal: A superioridade de Cristo.


  • "Hebreu" era o nome dados aos israelitas pelas nações vizinhas. Talvez tenha derivado de Éber ou Héber, que significa "homem vindo do outro lado do rio" (Jordão ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26; 14.13 Js.24.2). Abraão foi chamado de "hebreu".


Temos então várias designações para o mesmo povo:

- Hebreu: designa descendência.
- Israel: destaca o aspecto religioso.
- Judeu: da tribo de Judá ou habitante do reino de Judá.

Contextualizando:

Alguns desses termos foram mudando um pouco de sentido com o passar do tempo. O "judeu" do Velho Testamento estava estritamente ligado à tribo de Judá. Depois do cativeiro, a maior parte dos que regressaram a Canaã eram da tribo de Judá. Então, "judeu" tornou-se quase um sinônimo de israelita, já que quase todos os israelitas eram judeus. O termo tem esse mesmo sentido genérico até hoje.

O "hebreu" do Velho Testamento era todo indivíduo israelita. No Novo Testamento, esse termo passa a designar mais especificamente aquele israelita que fala aramaico e é mais apegado ao judaísmo ortodoxo, em contraposição ao "helenista", que é o israelita que fala grego e está mais influenciado pela cultura grega. Nesse sentido, veja Filipenses 3.5 e II Coríntios 11.22, nos quais o apóstolo Paulo cita com orgulho o fato de ser "hebreu" , assim como eram seus pais.

O autor insiste em que os leitores de sua carta deixem o que é primário e prossigam até a perfeição, no sentido de maturidade. Ele lista então seis pontos doutrinários, que chama de os rudimentos da doutrina de Cristo (os primeiros rudimentos, em Hb 5.12):

(1) Arrependimento de obras mortas se refere à mudança de pensamento quanto às exigências da Lei de Moisés (Hb 9.14).

Embora a Lei seja boa (1 Tm 1.8), era fraca, por causa da fraqueza de nossa natureza pecaminosa (Rm 8.3).

(2) O que é necessário para a salvação não são as obras mortas, que não podem salvar, mas a fé em Deus.

(3) Batismos pode referir-se aos vários batismos citados no Novo Testamento (o batismo de Cristo, o de João, o batismo do crente nas águas, e o espiritual, do crente pelo Espírito Santo), ou também aos diversos ritos de purificação praticados pelos judeus.

(4) No livro de Atos, a imposição das mãos era usada para transmitir o Espírito Santo (At 8.17,18; 19.6), assim como para ordenação ao ministério (At 6.6; 13.3). Essa prática é encontrada também no Antigo Testamento, para a delegação de poderes a alguém para serviço público (Nm 27.18,23; Dt 34.9) e no contexto de apresentação do holocausto ao Senhor (Lv 1.4; 3.2; 4.4; 8.14; 16.21).

(5) Ressurreição dos mortos se refere à doutrina da ressurreição de todos no final dos tempos (Ap 20.11-15). E um ensinamento do Antigo Testamento (Is 26.19; Dn 12.2), amplamente difundido no judaísmo do século 1, principalmente pelos fariseus. Para os cristãos, tornou-se essencial a crença na ressurreição de Jesus, sem a qual não existiria o perdão dos pecados (1 Co 15.12-17).

(6) Juízo eterno se refere à crença de que todos seremos julgados pelo grande Juiz. As Escrituras indicam que existirão dois tipos de julgamento final: o dos cristãos, no qual Jesus determinará a recompensa de cada um (1 Co 3.12-15), e o juízo dos descrentes (Ap 20.11-15).

Há três grupos nesse contexto e seus leitores originais são cristãos judeus que estão pensando em retornar ao judaísmo, e segundo o texto estarão se juntando às fileiras daqueles que crucificaram Cristo, pois sua atitude corresponde, em importância, a uma rejeição pública, a uma nova crucificação (simbólica) do Senhor. 

É necessário então compreender que “três grupos básicos de pessoas estão em vista em toda esta epístola. Se não mantiver um destes grupos em mente, o livro se torna bastante confuso.”  Em linhas gerais, os leitores eram judeus, que mantinham uma compreensão razoável da Torá. Um primeiro composto por judeus que eram cristãos de fato; um segundo, composto por judeus não cristãos que estavam intelectualmente convencidos; e, um último, composto por judeus não cristãos que não estavam convencidos.

A passagem diz respeito a judeus, verdadeiros crentes em Jesus, que, ao sofrerem perseguição, viam-se tentados a novamente se envolver com a religião judaica e seus ritos, de que haviam sido libertos em Cristo. Em vez de falar da perda da justificação, a passagem se refere ao fracasso de um crescimento à maturidade. O crente que, tentado, é levado a cair (como traduz melhor o grego), depois de já haver obtido progresso na caminhada cristã, como se evidencia nas características do crescimento cristão indicadas nos versículos 4 e 5, após a queda (o abandono não de Cristo, mas da corrida cristã) coloca-se em risco de ficar estagnado no crescimento cristão. A expressão e recaíram pode ser traduzida de forma melhor por e caíram de lado, representando um corredor que cai ao lado da pista durante uma corrida. Quando leio isso penso no "Mito da Caverna" de Platão. Reflita sobre esta explicação e faça uma correlação com a imagem que segue:




Por exemplo, a questão do “aio” em Gálatas 3:24-25:

A palavra "aio" (tutor) vem de uma palavra grega que quer dizer,  literalmente, "uma pessoa que conduz uma criança". Os aios na época de  Paulo foram servos responsáveis pela proteção dos filhos de seus senhores, levando-os para a escola, corrigindo-os, etc. Não foram os professores, nem os pais, mas serviam para cuidar da criança. Em Gálatas, Paulo mostra que as pessoas que estavam sujeitas à lei de Moisés no passado não permanecem subordinadas a este "aio". Ele afirma que a lei cumpriu sua função temporária. Por isso, ela não tem o mesmo domínio depois da chegada da fé em Cristo. 

Ele disse: "Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se. De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio" (Gálatas 3:23-25). O aio representa a lei revelada através de Moisés. A fé representa o evangelho de Jesus Cristo. As boas novas de salvação em Cristo já foram reveladas, e ninguém precisa guardar as leis do Antigo Testamento.

(6 .7 ,8 ) Nestes versos que se seguem, há uma ilustração baseada na natureza transmite duas verdades: (1) um pedaço de terra que recebe chuva (um dom celestial, v. 4) e que é produtiva e útil para muitos e abençoada por Deus (v. 7); (2) um pedaço de terra (v. 8) que recebe chuva (um dom celestial, v. 4), mas é improdutiva, é reprovada (gr. adokimos), palavra que significa desqualificada, usada em relação a cristãos desqualificados para receber recompensas (1 Co 9.27; 2 Co 13.5,7). Essa terra não é amaldiçoada, mas perto está da maldição (1 Co 11.29-31).

A consequência é ser queimada, o que não significa o inferno, mas um juízo temporal de Deus. No Antigo Testamento, o juízo de Deus sobre Seu povo está associado a queima dos campos (Is 9.18-19; 10.17), o que representa morte física, mas não morte espiritual. Talvez exista aqui também uma alusão ao fogo do juízo, quanto ao fundamento de Cristo (1 Co 3.11-15). Existia uma prática antiga de queimar a terra para destruir as ervas daninhas e fazer que o campo fosse útil novamente. Se essa é a alusão pretendida, então a passagem ensina que, embora todas as tentativas humanas de restaurar os apóstatas sejam inúteis (v. 6), existe a esperança de que possam voltar a produzir novamente. E possível a uma pessoa naufragar na fé e aprender, então, com essa ruinosa experiência (1 Tm 1.18-20).

“Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis. Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança;” Hebreus 6:10,11

“A qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu,Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.” Hebreus 6:19,20

A esperança do crente em Cristo é segura como uma âncora. Essa âncora não está na areia, mas na presença do Todo-poderoso. Interior do véu se refere ao Santo dos Santos, o lugar onde Deus habita. 

A palavra grega para precursor era usada no século 2 d.C. com relação a barcos menores enviados para o porto pelos grandes navios impossibilitados de lá atracar devido ao mau tempo. Esses barcos carregavam a âncora através da arrebentação para o porto e a prendiam lá, segurando assim o navio maior. Precursor pressupõe que outros o seguirão. Deste modo, Jesus é não somente a própria âncora do crente, mas também o barco que leva a âncora para o porto e a segura firmemente. 

“Go” siga daqui e confia!

“Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará.” Hebreus 10:35-37

“Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3:11-14

Nenhum comentário:

Postar um comentário