“Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio;
por que te destruirias a ti mesmo?” Eclesiastes 7:16
Sou “puxado” para aquilo que queima meu peito e me
pego refletindo nas disciplinas que amo lecionar: Hermenêutica, Filosofia da Religião
e Teologia Contemporânea.
O problema com o demasiadamente justo, é que ele não entende e não aceite o propósito de
Deus em nos transformar, que não seja em seus termos. (não que alguém entenda ação de Deus, mas sim que seja resiliente, às vezes). O que o autor de Eclesiastes quer nos ensinar é que o
justo não deve esperar ser tratado pela proporção da sua justiça. A leitura de
todo o livro de Eclesiastes será esclarecedora para compreender o versículo em
análise.
Não seria exagero por exemplo dizer que vivemos constantemente
interpretando. Desde o momento em que começamos nosso dia, interpretamos o
humor, conversas, o jornal da manhã, os sinais de trânsito, a expressão do
rosto do nosso chefe. Alguns desses atos de interpretação são tão naturais e
frequentes que não pensamos quando agimos. Quando vejo um sinal vermelho eu
paro. Pronto interpretei!
Livros e outras formas de texto são no entanto mais
difíceis de interpretar. Estamos engajados numa conversação com o autor,
entretanto o autor não está lá para responder quando procuramos esclarecimentos.
Semelhantemente, a Bíblia demanda toda a nossa
energia interpretativa se estivermos prontos a compreender o seu significado
correto. Primeiro, ela nos incentiva ao diálogo com um grande número de autores
humanos, de Moisés, que viveu por volta do ano 1500 a.C., a João, que viveu no
final do primeiro século. Mais importante ainda é que a Bíblia nos leva a
conversar com Deus.
A Infinitude de Deus é experimentada por nós num
contraponto à nossa finitude. Deus é percebido como maior que o mundo no mundo.
Senhor da história na história. Inominado no nome. Indisponível na mediação criada à nossa
disposição. Eterno no tempo.
Por causa de textos como estes, reflexões como estas, procuro em sala de aula, reproduzir o que considero de
melhor em Karl Barth um dos maiores pensadores protestantes do século
XX:
Deus não é simplesmente uma unidade no mundo dos
fenômenos; ele é infinito e soberano, “Totalmente Outro”, e só pode ser
conhecido quando nos fala. Deus fala ao homem como a bomba explode na terra.
Depois da explosão, tudo o que resta é uma cratera abrasada no terreno, e essa
cratera é a igreja.
Em oposição ao antigo liberalismo, Barth enfatizou a
necessidade que o homem tem da revelação, e chamou suas idéias de Teologia da
Palavra de Deus. Barth, porém, insistiu na distinção entre a Bíblia e a Palavra
de Deus. Este era seu legado kantiano. Para ele, até que a Bíblia se torne real
para nós, até que ela nos fale da nossa situação existencial, ela não é Palavra
de Deus. Esse é o conceito barthiano de revelação.
A própria natureza da revelação, segundo Barth, é um
paradoxo: Deus é o oculto que se revela; conhecemos a Deus e conhecemos o
pecado; todo homem é escolhido e também reprovado em Cristo; o homem é
justificado por Cristo, mas ainda é pecador.
Barth destaca a absoluta transcendência de Deus.
Deus é o único positivo, o ser. O homem, no entanto, da mesma forma que o
mundo, é a negação, o não ser. Justamente por não ser nada, o homem não tem a
possibilidade de autoredenção; nem ao menos de conhecer Deus, mas somente de
saber que não o conhece.
A iniciativa vem de Deus, que irrompe no mundo do
homem através de sua revelação e palavra. A teologia de Barth é, por isso, a
teologia da palavra. A revelação de Deus é o objeto da teologia. Barth centra
toda a sua atenção na revelação e palavra de Deus na Bíblia.
Barth vê a revelação de Deus na Bíblia como algo
dinâmico, não estático. A palavra de Deus, diz Barth, não é um objeto que nós
controlamos como se fosse um corpo morto que podemos analisar e dissecar. Na
realidade é como um sujeito que nos controla e atua sobre nós. E essa Palavra é
capaz de nos fazer reagir de um jeito ou de outro.
Hoje, através da Palavra proclamada, a Igreja é
testemunha da Palavra revelada. Sua proclamação baseia-se na palavra escrita, a
Bíblia. Deus serve-se desta palavra proclamada e escrita, e se transforma em
palavra revelada de Deus, quando ele quer falar-nos através dela.
Barth prega que “a mensagem da graça de Deus é mais
urgente que a mensagem da Lei de Deus, de sua ira, de sua acusação e de seu
juízo”. A teologia de Barth exerceu e continua exercendo uma influência
decisiva na constante procura da palavra autêntica e verdadeira de Deus.
GRONDIN, Jean. Hermêneutica.
Editora: Parábola.
BARTH, Karl. Revelação de Deus
Como Sublimação da Religião. Editora Sinodal.
BARTH, Karl. Introdução a Teologia Evangélica. Editora
Sinodal.
LIBÂNIO, J. B. Teologia da libertação: roteiro
didático para um estudo. Edições Loyola.
HARDING, John. Filosofia Para Iniciantes. Editora
Vida Nova.
WOLFHART, Pannenberg. Filosofia e Teologia - Tensões
e Convergências de uma Busca Comum. Paulinas.
MILLER, Stanley J. , GRENZ,
Ed. L. Teologias
Contemporaneas. Editora Vida Nova
https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/a-influencia-de-immanuel-kant-na-teologia-contemporanea/
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